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Extensão Universitária

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.” – Paulo Freire

 

O termo “extensão universitária” é, sem dúvida, bastante amplo. A definição mais geral diz que extensão significa qualquer trabalho que “estenda” o conhecimento da universidade para fora dela, abrangendo, assim, atividades bastante distintas, de cursos pagos à filantropia. A extensão, dentro da perspectiva que a entende como parte fundamental do funcionamento da universidade, deve articular o ensino e a pesquisa de forma a viabilizar uma interação entre a sociedade e a universidade. Porém, como realizar essa articulação? Quais são hoje as relações entre a sociedade e a universidade? O que seria uma relação transformadora?

Para encontrarmos respostas a esses questionamentos precisamos partir da ideia de que a universidade está inserida no interior da sociedade e por ela é determinada a todo o momento. O cenário a ser visualizado é um tanto complexo: vários setores da sociedade continuam a ser excluídos do acesso à universidade, enquanto persiste a visão de que o chamado “saber especializado” – aquele produzido na Academia – deve permanecer essencialmente dentro dos centros de ensino superior. A produção desse tipo de conhecimento também atende ao princípio de que, para um maior aprofundamento do que é pesquisado, devemos evitar aproximar as áreas de estudo. Com o tempo, a produção científica acaba se afastando cada vez mais da sociedade, tornando-se, assim, descolada dos problemas sociais e sendo incapaz de compreender as dificuldades de um mundo em transformação. No entanto, a universidade pode gerar intensas e inovadoras formas de se pensar outra sociedade, outro país.

Portanto, se o que queremos é mudar a realidade com a qual discordamos, a formação acadêmica não pode se restringir aos muros da universidade. A extensão é o momento de contato e diálogo com os setores da sociedade que estão do lado de fora da USP; é quando, por meio de uma postura crítica, nos defrontamos com diversas questões do cotidiano.

A extensão não é, porém, uma ação assistencialista ou um voluntariado. Ela se caracteriza pela formação de um trabalho participativo, horizontal, em que os diferentes interlocutores compartilham seus saberes – popular e acadêmico – em um debate que visa não à ajuda, mas à formulação de uma visão mais global e integrada das mazelas sociais, que possa, inclusive, gerar projetos ou propostas de políticas públicas. Portanto, ela é uma troca de saberes, em que ambos os lados adquirem novos conhecimentos. Essa experiência também produz questionamentos em sala de aula e pode redirecionar os rumos da pesquisa realizada por professores e estudantes.

Dessa maneira, a extensãoéessencial não somente para a formação acadêmica, mas também pode ser um meio de democratizar o conhecimento e o modo como ele é elaborado, de reinventar a universidade e desmistificar a ideia de que este é um lugar de intelectuais ilustres e inacessíveis.

Levando essas premissas em consideração, nós, do Universidade em Movimento, acreditamos que a extensão universitária e o movimento estudantil são indissociáveis. Entretanto, o que vemos hoje é uma série de projetos de extensão popular que não encontram espaço nos fóruns do ME.  Acreditamos que a articulação desses projetos é essencial para a construção de uma universidade mais democrática e popular. Se o movimento estudantil pretende intervir na realidade social para além dos muros, ele deve não só valorizar a extensão universitária, mas também adotá-la como eixo central de sua atuação.

A extensão universitária é essencial para colocarmos a Universidade em Movimento!

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